Wednesday, May 04, 2011

Filósofo britânico defende a prática do vegetarianismo e a produção de carne in vitro como soluções para abolir o sofrimento dos animais


03 de Maio de 2011 às 18:55

247, com informações do Instituto Humanitas Unisinos – “Treblinka” foi o nome dado ao quarto campo nazista de extermínio, onde milhares de judeus foram exterminados em câmaras de gás. Para o filósofo britânico David Pearce, a vida dos animais criados para alimentar os seres humanos é exatamente assim: “uma eterna Treblinka”. “Suspeito que nossos descendentes venham a considerar o modo como seus ancestrais trataram membros de outras espécies não apenas como não ético, mas como um crime no mesmo nível do Holocausto”, dispara.

Para o autor do manifesto “The hedonistic imperative” (1995) – que defende a utilização de biotecnologias para abolir o sofrimento em toda a vida senciente – e fundador da Associação Mundial Transumanista, não é preciso que o ser vivo seja inteligente para sofrer profunda aflição. “Uma convergência de indícios evolutivos, comportamentais, genéticos e neurocientíficos sugere que os animais não humanos que exploramos e matamos sofrem intensamente – da mesma maneira como nós”. O filósofo acredita ser necessário desenvolver um senso mais inclusivo e solidário do ‘nós’ que abranja todos os seres sencientes. “As limitações intelectuais de animais não humanos são uma razão para lhes dar maior cuidado e proteção, não para explorá-los”.

Um porco tem a capacidade intelectual – e, criticamente, a capacidade de sofrer – de uma criança pequena de 1 a 3 anos, segundo Pearce. “Nós reconhecemos que as crianças pequenas têm direito a amor e cuidado. Em contraposição a isso, criamos intensivamente em confinamento e matamos milhões de porcos usando métodos que acarretariam uma sentença de prisão perpétua se nossas vítimas fossem humanas”, exemplifica. A questão, para ele, não é se existem diferenças genéticas entre membros de raças ou espécies diferentes, mas se essas diferenças são moralmente relevantes. Diferentemente dos humanos, os animais não humanos carecem da estrutura neocortical que possibilita o uso da linguagem. “Por que esse módulo funcional haveria de conferir alguma espécie de status moral singular a seu proprietário? Deveriam os surdos-mudos humanos serem tratados da forma como tratamos os animais irracionais?”, pergunta.

Pearce também questiona o sentido ético de se consumir carne. “O prazer que muitos consumidores têm ao comer carne de animais mortos tem moralmente mais peso do que o sofrimento embutido em sua produção?”. Os principais escritos do pesquisador inglês baseiam-se na ideia de que há um forte imperativo moral que impele os seres humanos a abolirem o sofrimento em toda a vida senciente. “Os maiores obstáculos a um mundo sem sofrimento serão éticos e ideológicos, não técnicos”, diz.

Muitos consumidores de carne ficam chocados quando veem vídeos saídos clandestinamente de criadouros industriais de animais ou matadouros. “Se os matadouros tivessem paredes de vidro, todos nós seríamos vegetarianos”, já disse Paul McCartney, vegano convicto. Talvez não, mas o processo de conversão certamente se aceleraria, afirma Pearce.

O filósofo sabe bem como a carne está incutida na cultura alimentícia global, especialmente na ocidental. Por isso sugere como alternativa ao vegetarianismo – que considera o ideal - um sistema de produção de carne in vitro, que consistiria na alimentação isenta de crueldade. “O desenvolvimento de uma carne deliciosa, produzida artificialmente sem uso de crueldade, de um gosto e uma textura que sejam indistinguíveis da carne produzida a partir de animais intactos será potencialmente escalável, sadia e barata no futuro”, garante.

A primeira conferência mundial sobre produção de carne in vitro foi realizada em Oslo, na Noruega, em 2008 e já existe uma organização sem fins lucrativos, a New Harvest, que está trabalhando para desenvolver carne produzida em laboratório. “Se os consumidores soubessem o que entra atualmente em produtos de carne e frango – os úberes das vacas com mastite e tumores que caem dentro do leite, os porcos com tumores que entram diretamente no moedor, a gripe suína, o hormônio de crescimento de bovinos, toneladas de antibióticos que diminuem a resistência humana, contaminação desenfreada com E. coli, etc. –, não iriam querer comprá-los a preço nenhum”, alerta. “É preciso admitir que com a tecnologia atual só conseguimos produzir carne in vitro com uma qualidade semelhante à carne moída, mas no futuro deverá ser possível produzir em massa bifes de primeira qualidade. A maior incerteza são as escalas de tempo”, conclui.

fonte: brasil 247

2 comments:

anita said...

Bom saber que estão surgindo tentativas de abolir o sofrimento animal.
Carne in vitro seria algo impensável até pouco tempo...
Segue o link com a Oração do Vegetariano:
http://cafofodakatita.blogspot.com/2011/05/vale-pena-rezar-praticar.html

Gabriel Correia said...

Louvo a intenção do filosofo mas é uma intuição acredito que a humanidade tem de ser capazes de superar esse instinto assassino.
Alem de que devemos procurar viver da forma mais natural possível carne in vitro estranho.